Oportunidades e desafios olímpicos
Por Eduardo Pocetti*
No início de setembro, cerca de um mês antes da confirmação do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou um estudo sobre seus possíveis impactos econômicos. As análises basearam-se nos indicadores de três edições do grande evento: Barcelona (1992), Sydney (2000) e Pequim (2008).
Entre outras informações, o estudo revela que, em Barcelona, a taxa de desemprego caiu pela metade e permaneceu um terço menor do que no restante da Espanha. Os chineses, por sua vez, aproveitaram os Jogos de Pequim para fortalecer a imagem do país perante o mundo e para investir vigorosamente em infraestrutura, com a realização de obras que têm importância permanente para a população.
Em 2000, o setor da economia que mais se beneficiou com a exposição propiciada pelo evento foi o de turismo: o documento do Ipea informa que, entre os norte-americanos, o interesse pela Austrália como destino turístico cresceu 45%.
Num momento em que o Brasil está especialmente bem posicionado no cenário econômico mundial, o direito de sediar as competições é uma conquista mais do que bem-vinda, pois nos abre várias frentes de atuação e desenvolvimento.
Para o Rio de Janeiro, eterna cidade-símbolo do Brasil, a responsabilidade de se adequar às exigências inerentes a uma sede olímpica representa um enorme desafio – e, também, uma oportunidade valiosa para elevar o nível de emprego, aprimorar as obras de infraestrutura realizadas por ocasião dos Jogos Pan-Americanos, reforçar a imagem de paraíso tropical dotado de uma indústria turística madura e incrementar a segurança pública, que permanece como o calcanhar-de-aquiles da capital fluminense.
É certo que a economia brasileira como um todo, e a do Rio de Janeiro em particular, sentirá os impactos positivos dessa intensa movimentação: as expectativas de investimentos em obras e na organização dos Jogos, por parte de Município, Estado e Federação, giram em torno de R$ 30 bilhões.
A premência de obras necessárias gera um evidente impacto positivo no setor da construção civil, mas há desdobramentos saudáveis em inúmeros segmentos. Haverá aumento da demanda nos setores hoteleiro e de transportes (das empresas aéreas às prestadoras de serviço em rádio-táxi), no varejo, nas áreas de entretenimento, bares e restaurantes, nas telecomunicações...
A realização da Olimpíada representa, portanto, uma perspectiva e tanto no que se refere à geração de riqueza e emprego e de aumento de arrecadação, que se estenderá pelos próximos sete anos, ou talvez mais. Os jovens terão mais chance de conseguir seu primeiro posto de trabalho, os empreendedores encontrarão terreno fértil para lançar as sementes de um novo negócio e os administradores públicos serão desafiados a mostrar o melhor de sua competência.
Vale ressaltar que as promessas felizes não se restringem à cidade que sediará os Jogos. Afinal, as companhias especializadas em grandes obras de infraestrutura atuam em vários estados e, em momentos cruciais como este, é comum haver recrutamento de profissionais de várias partes para que os prazos sejam cumpridos, e as expectativas, atendidas.
Além disso, quais são as chances de um turista que venha para o Brasil querer ampliar sua visita para outras cidades do país? Enormes, sem dúvida! Cabe lembrar que teremos aqui não apenas torcedores, mas também atletas e profissionais das comissões técnicas de todos os continentes. O trânsito desses turistas por outras cidades fluminenses, e até por outros estados do país, é bastante promissor.
Para que tudo dê certo – não é exagero afirmar que, neste momento, todo brasileiro se torna um anfitrião ansioso por receber seus visitantes de maneira impecável – os gargalos precisam ser solucionados. Do fornecimento de internet banda larga ao suprimento de energia, passando pela necessidade de assegurar a sustentabilidade de cada projeto que será efetuado, há muitas arestas a serem aparadas e detalhes a serem observados.
O sucesso depende de um bom alinhamento entre os setores público e privado, do planejamento racional e da constante busca de eficiência por parte de todos os atores envolvidos nessa imensa força-tarefa. É fundamental, também, que os princípios da ética e da transparência sejam obedecidos rigorosamente.
E nós, cidadãos brasileiros, temos o dever de nos inspirar nos exemplos dos grandes atletas. Juntos, vamos buscar a máxima performance no cumprimento das nossas atribuições! Somos agora uma nação-equipe, imbuída da missão de fazer a tocha olímpica de 2016 brilhar com mais intensidade que nunca!
*Eduardo Pocetti é CEO da BDO, quinta maior empresa de auditoria no Brasil e no mundo