terça-feira, 27 de setembro de 2011

VIVA, SEBASTIÃO!




Ultimamente não tenho dado muita atenção a futebol, principalmente depois que o Santos FC “pisou no freio” e o Campeonato Brasileiro começou a ficar meio esquisito.
E por falar em “pisar no freio”: Fórmula 1, então, desde aquela palhaçada da Ferrari no GP da Alemanha, quando a equipe constrangeu Felipe Massa a deixar Fernando Alonso passar - com direito a “ridiculous!” por rádio e tudo o mais -, parei de ver.
Massa, aliás, não teve muita sorte esportiva desde que entrou na escuderia italiana:
Em 2008, foi prejudicado pela equipe em duas corridas “ganhas” e, na última, perdeu o título para Hamilton, que ultrapassou Timo Glock na última curva. Já em 2009, graças a uma porca de Rubinho, quase foi desta para uma melhor equipe, onde, com certeza, o Chefe jamais o mandaria dar passagem para um “primeiro piloto”, pois todos são iguais perante Ele.
Este, principalmente depois do GP alemão, Massa desandou. Quando à Barrichello: nunca andou e, para completar, a equipe de di Grassi foi uma desgraça e a de Bruno Sena não ficou muito atrás. Por sinal, as duas é que ficaram muito atrás. Que tristeza!
Este domingo, no entanto, eu fiz questão absoluta de assistir o GP de Abu Dhabi, por algumas razões bastante significativas:
A primeira foi porque raras vezes, nas últimas décadas, um campeonato chegou ao derradeiro GP com quatro pilotos disputando o título. A segunda, porque soube que o dono da RBR, depois daquela coisa vergonhosa da Ferrari, proibira o chefe de sua equipe de fazer qualquer tipo de distinção entre seus pilotos. E a terceira, porque eu estava num entusiasmo só para torcer, com todas as minhas forças, para Alonso não ser campeão! Ainda mais depois das declarações arrogantes – o que não é nenhuma novidade - que ele dera no sábado, praticamente se julgando tri-campeão.
Ninguém nega as qualidades do piloto espanhol, mas ele é uma das figuras mais desagradáveis que esse esporte teve nos últimos tempos.
Torcer para quem, então?
Hamilton? Não, pois ainda não digeri aquele campeonato de 2008, sobre Massa.
Webber? Bem, ele se julgava primeiro piloto da RBR e andava reclamando muito de Vettel apenas porque ele estava subvertendo essa “ordem das coisas” dentro da pista, ou seja, por seu próprio mérito e arrojo!
Ora, escolha natural: Vettel! E o garoto de apenas 23 anos não decepcionou: mandou ver desde o início!
Para melhorar mais ainda, a corrida teve atuações soberbas de Kubica e seu companheiro de Renault, Petrov – que tem vitalidade até no pré-nome, Vitaly – não deu nenhuma chance de ultrapassagem para Alonso. E com classe!
Aí, para manter a fama de ridículo, ao final da corrida o espanhol emparelhou com o russo para fazer gestos desaforados.
O que ele queria? Que mandassem Petrov dar passagem para ele, mesmo sem ser retardatário? Será que na cabeça desse indivíduo todo mundo que está na frente dele é segundo piloto, ainda que não seja de sua equipe?
Bem fez o russo, que retribui com um sinal do tipo: “vai ver se eu estou na curva...”!
Assim, nesse domingo voltei a ter prazer em ver um GP de Fórmula 1, pois a corrida foi bem disputada e o resultado foi honesto, como sempre deveria ser! Além disso, um recorde foi batido: Vettel passou a ser o mais jovem campeão da história!
Valeu Sebastião, quer dizer, Sebastian!

MEMÓRIAS DO RÁDIO ESPORTIVO



 
Comecei a acompanhar narrações esportivas mais atentamente por volta dos 11 anos de idade, no início da década de 1970.
O tipo de narração era mais ou menos padrão: um speaker de voz poderosa e rápida, estilo turfe; um comentarista de voz lenta e doutoral; e um ou dois repórteres de campo, além do plantão esportivo, que informava resultados de outros jogos.
Em Santos, eu costumava escutar a Rádio Atlântica, cujo narrador era Walter Dias, com comentários de Jorge Shammas e reportagens de João Carlos, o corisco dos repórteres. É verdade que várias vezes a torcida já estava gritando gol e o narrador ainda estava no meio de campo. Lembrando disso, me veio à mente o impagável esquete do narrador de futebol gago, imortalizado por Zé Vasconcellos...
Quando o Santos FC jogava clássicos, no entanto, eu preferia ouvir a Rádio Nacional de São Paulo, que tinha Pedro Luiz, Mário Moraes, Juarez Suares e Roberto Carmona.
Aí, um dia, eu passeava pelo dial do rádio de pilha quando descobri a Jovem Pan.
O estilo narrativo era irresistível, a começar por Osmar Santos, que reinventou a transmissão esportiva, trazendo a ?firula? do campo para a voz. Não foi à toa que passou a ser chamando de Pai da Matéria.
Os outros narradores da Pan eram apenas José Silvério e Edemar Anusek! Os comentaristas também eram supimpas: Orlando Duarte e Cláudio Carsughi, com seu sotaque italiano indefectível, ainda mais preciso quando acompanhava o Velho Barão, Wilson Fittipaldi, nas corridas de Fórmula 1, nos tempos de Emerson, Wilsinho e José Carlos Moco Pace. No campo, desfilavam Fausto Silva (o Faustão) e Wanderley Nogueira; equipe que teve, mais tarde, o aporte de um jovem cabeção de Muzambinho: um tal Milton Neves... Mas, o que mais me surpreendeu foi o que veio depois do futebol e antes do Terceiro Tempo, que na época era um noticiário geral, de fim de domingo da emissora. O nome desse programa resumia com absoluta perfeição o que ele era: Show de Rádio. Seus protagonistas: Estevam Sangirardi, Nelson Tatá Alexandre, Carlos Roberto Escova, Odayr Batista e, algum tempo depois, Serginho Leite. Eles personificavam personagens hilários, que representavam, entre outros, cada time grande de São Paulo: o Palmeiras tinha a Nona, o Fumagalli e o cachorro Vardema Fiúme; o Corinthians tinha o Zoca Zifio, o Pai Jaú e a Nega; o São Paulo tinha o Lorde Didu Morumbi e seu mordomo corintiano, sistematicamente assim chamado: - Archibald! Archibáaáaáaáald!; e o Santos tinha dois portuários: o Zé das Docas e o Lança-Chamas, este invariavelmente bebaço e, entre um cochilo e outro, perguntando: - O Santos joga hoje?
Os domingos e quartas-feiras terminavam mais felizes, e eu, ainda menino, tinha a ilusão da eternidade das coisas boas... Até que a Rádio Globo de São Paulo, sucessora da Nacional, resolveu contratar Osmar Santos e, de quebra, levou Faustão, Tatá e Escova, provocando o que foi uma das maiores disputas entre emissoras da época, com direito a editoriais e acusações de assédio.
Osmar Santos, que vivia a dizer para os jogadores mascarados: Desce daí! Desce daí, que você não ta com essa bola toda!, virou o Pai do merchandising, mandando tanto Oi, fulano! Oi, sicrano!; que a torcida já estava gritando gol, quando ele se tocava que tinha um jogo em andamento. Na nova casa foi criado o Largo da Matriz, programa nos moldes do Show de Rádio e, logo em seguida, Faustão, Tatá e Escova começaram a apresentar a primeira versão do caótico Perdidos na Noite, na TV Gazeta, que depois foi para a Band e, mais adiante, o então gordinho (Ô loco, meu!) foi sozinho para perpetrar o Domingão do Faustão, na Globo.
As transmissões esportivas radiofônicas voltaram a ficar resumidas aos jogos, plantões esportivos e programas muito parecidos entre si, cujo diferencial único estava num narrador ou comentarista mais espirituoso.
Ainda bem que existe o Na Geral, da Rádio Bandeirantes, que conta com um gênio Beto Hora. É impressionante como ele consegue interpretar três personagens brigando entre si, ao mesmo tempo! Mudar de um tipo para outro, entre dezenas, sem perder o rumo! E ainda dar opiniões sérias por esses alteregos.
Esse é um dos muitos fascínios do rádio, talvez o maior deles, só comparável à leitura: mexer com nossa imaginação!
Por essas e por outras é que, em suas múltiplas e dinâmicas facetas, o rádio vive em constante processo de reinvenção de si próprio e, quando bem utilizado: informa, entretém, educa e também sabe ouvir.
 
Adilson Luiz Gonçalves
Mestre em Educação
Escritor, Engenheiro, Professor Universitário e Compositor