Cacilda Luna, da Assessoria de Imprensa da FEA
Algumas carreiras são mais dinâmicas e têm ciclos curtos, como a dos
esportistas de alto rendimento. Em determinado momento, apesar de
jovens, eles são obrigados a se aposentar precocemente e pensar em outro
meio de subsistência. Essa transição dos ex-atletas, alguns deles
consagrados medalhistas olímpicos, para a nova realidade profissional
foi objeto da tese de doutorado de Lina Eiko Nakata, defendida
recentemente na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
(FEA) da USP. O objetivo do trabalho foi identificar e analisar os
fatores que influenciam o processo de transição no encerramento da
carreira esportiva. Os ex-atletas relataram uma melhor situação
financeira pós-carreira esportiva e também se mostraram satisfeitos com
os dois momentos de sua vida profissional.
Com o título A transição de carreira do ex-atleta de alto rendimento,
o estudo foi orientado pela professora Tania Casado, do programa de
pós-graduação em Administração. Teorias de carreira esportiva são pouco
estudadas na academia e há pouca ou nenhuma preparação para que esse
profissional continue trabalhando após sua aposentadoria. Segundo Lina
Nakata, as contribuições deste trabalho foram direcionadas aos atletas,
às organizações esportivas, às universidades, aos pesquisadores da área
de administração e aos gestores de políticas públicas.
Lina entrevistou 13 ex-atletas de modalidades individuais, dos quais
10 disputaram Jogos Olímpicos e seis tornaram-se medalhistas. Os
entrevistados tinham entre 32 e 47 anos e vieram de modalidades como
atletismo, natação, tênis, tênis de mesa, canoagem e esgrima. Todos
encerraram suas carreiras nos últimos 10 anos. O mais jovem se aposentou
aos 27 anos e o mais velho, com 44 anos.
Apesar dos desafios enfrentados pelos atletas serem complexos quando
deixam suas práticas de alto desempenho para terem uma nova atuação
profissional, os resultados da pesquisa mostraram que as transições de
carreira para a maioria dos esportistas entrevistados foram bem
realizadas, independente de terem continuado ou não no contexto
esportivo. Um dado que surpreendeu a pesquisadora foi o fato dos
ex-atletas relatarem uma melhor situação financeira pós-carreira
esportiva e também de terem se mostrado satisfeitos com os dois momentos
de sua vida profissional.
Aposentadoria
Em relação à tomada de decisão para a aposentadoria, 10 entrevistados
declararam que ela foi voluntária, dois afirmaram que foi involuntária e
um ainda está fase de transição. A pesquisadora ressaltou que, de um
modo geral, quatro causas motivam a aposentadoria na carreira de um
atleta de alto desempenho: lesão, idade, não seleção e livre escolha. A
livre escolha foi a causa mais citada por sete dos respondentes. Também
são citados na literatura, de acordo com Lina, o desejo da mudança e
outros interesses pessoais, como constituir família.
Em alguns casos, as lesões costumam ser, isoladamente ou não, motivo
para o término da carreira esportiva. Ao analisarem sua trajetória
esportiva, apenas três apontaram a lesão como o único motivo para a
aposentadoria. Entretanto, sete mencionaram a lesão como um ponto
marcante na carreira, pois afetou de forma negativa sua performance. “De
uma forma geral, eles mostraram que as lesões geram traumas e certo
medo, além de serem razões importantes que apontam para a
aposentadoria”, afirma a pesquisadora.
Para cinco dos entrevistados, a preocupação com a aposentadoria
esteve ausente na maior parte da carreira. No entanto, segundo a
pesquisadora, existem dois fatores que acendem o sinal de alerta para o
esportista e nesse momento ele se dá conta de que a carreira tem dias
contados: à medida que seu rendimento cai, e quando ele percebe que
atletas mais jovens estão chegando, aumentando o risco de concorrência.
Lina Nakata destaca, ainda, que foi relevante verificar a importância
de se manter uma rede de relacionamentos forte a fim de que a transição
para a aposentadoria seja positiva e para que o processo se inicie já
na própria carreira atlética. O apoio, formal ou informal, segundo ela,
pode trazer resultados mais positivos, entre eles a satisfação do
esportista, perspectivas, resultados na nova carreira e confiança do
ex-atleta.
Foto: Marcos Santos / USP Imagens